O COIREM é um encontro que surgiu de um sonho coletivo acalentado na Tekoa (Teko Haw) Maraka’nà e no CESAC (Centro de Etnoconhecimento Sociocultural e Ambiental Cauyré). Sua construção parte de uma inquietação: a constituição de um espaço de educação popular, de resistência intercultural, de bem público-comum construído autonomamente pelos e para os povos indígenas e originários. A invisibilidade destes povos, a negação de sua historicidade, o seu genocídio e a criminalização e execução de suas lideranças, torna fundamental e urgente a criação deste espaço. A este espaço chamamos de Universidade Indígena (UI). A UI é um lugar de articulação, denúncia, produção coletiva de conhecimento estratégico para lutas, (re)valorização dos saberes ancestrais, dos princípios de convivência sociocomunitária destes povos tradicionais, fortalecimento e de superação da condição de criminalização e opressão histórica dos povos indígenas.
O COIREM 2018, tem por objetivo principal estabelecer as diretrizes políticas, sociológicas, filosóficas, pedagógicas e artístico-culturais da implementação da Universidade Indígena e reconhecer e desenvolver propostas de fortalecimento da resistência de base comunitária e de luta pela terra pelos povos indígenas. Também consideramos urgente o registro da criminalização das lideranças dos povos indígenas e da invisibilidade dos povos e do racismo historicamente sofrido. Trata-se da deflagração do processo de constituição participativa de uma universidade-aldeia indígena, como espaço de formação superior, na vivência comunitária de princípios, usos e costumes tradicionais indígenas e intercultural, aliada ao reconhecimento e busca por reparação pelo Genocídio/Racismo Indígena historicamente praticado estruturalmente pelas práticas colonialistas do Estado.
A Aldeia Maraka'nà, única aldeia indígena que restou na cidade do rio de janeriro, está situada em um território sagrado, usurpado pela família imperial e tem uma longa história marcada pela presença indígena e a luta pela preservação cultural. Após abrigar o Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro em 1953, o prédio passou décadas abandonado até ser retomado, em 2006, pelo movimento indígena. Transformada em um símbolo de resistência, a Aldeia Maraka'nà desafiou a especulação imobiliária e enfrentou violenta repressão, principalmente durante os preparativos para os megaeventos esportivos, que resultaram em sua remoção temporária. Entretanto, a nossa persistência manteve viva a resistência, resultando em nova ocupação do espaço após o fim dos eventos.
Apesar da remoção e abandono do local, os indígenas retomaram o espaço com a missão de afirmar sua cultura e existência em meio ao cenário urbano, resistindo ao controle colonial e reivindicando autonomia. A Aldeia tornou-se um centro de resistência cultural, onde atividades coletivas promovem a autossuficiência e o intercâmbio cultural. Hoje, é um símbolo de luta por reconhecimento e autodeterminação dos povos indígenas, que buscam mostrar a vitalidade de sua cultura e reivindicam seu lugar na sociedade brasileira. A Aldeia Maraka'nà, portanto, representa a resiliência e a busca contínua por direitos e dignidade, reafirmando sua importância histórica e cultural no coração do Rio de Janeiro.